quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Relação Escola Família

1. Introdução

Diante da complexidade no campo educacional que hoje as pessoas vivem, pretende-se compreender a enorme necessidade da relação dque deve haver entre a escola e a família nestes dias atuais.

São muitos os questionamentos a respeito da participação da família, junto à escola, concernente à educação dos filhos. Não se trata de uma polêmica, pois, a escola não pode ser uma mera entidade que apenas recebe alunos das mais diversas camadas sociais e cuida de formá-los como cidadãos e ou em pessoas que pelo menos procurem desenvolver sua conduta de forma a corresponder com os padrões exigidos pela sociedade. Embora o que está em jogo no caso da APAE de Irecê no seu processo educativo, não é a questão “conduta e padrões”, mas principalmente uma preparação que venha atender os requisitos básicos para uma inclusão sem choques, choques digo: por parte daqueles a serem incluídos e também por parte da sociedade, “receptora”.

A escola não deve resumir em si mesma o papel de educadora e transformadora do ser humano, principalmente quando se trata da educação voltada exatamente para pessoas que são portadoras de necessidades especiais, como é o caso dos alunos da APAE de Irecê. É preciso que ela compreenda-se como mediadora que apesar de tudo precisa estar em perfeita ligação com a família para que juntas encontrem saídas mais justas para uma aproximação de sucesso entre os indivíduos excepcionais e a “sociedade normal”.

Não devemos jamais conceber uma escola que esteja alheia à situação da família hoje. É preciso que haja um profundo conhecimento por parte da escola a respeito da família. O que se passa no seio da mesma deve ser de fundamental importância para a escola hoje, até porque determinadas situações-problemas só se consegue resolver quando há um conhecimento prévio de condicionantes que venham por acaso ser a causa ou o meio por onde transcorrem tais problemas. A escola, por outro lado, precisa estar aberta para que a família possa ter um acesso maior quanto ao seu projeto pedagógico. Acredita-se que uma vez a família vendo de perto as propostas que a escola tem para oferecer aos seus filhos e podendo contribuir no que lhe for cabível, sem sombra de dúvida, a partir daí pode surgir uma relação de confiança e colaboração. É importante que a escola leve em consideração inclusive o fator social como diz Isabel Alarcão no livro Escola reflexiva e nova racionalidade; Organizada por ela mesma:

“ A escola reflexiva é uma escola que se assume como instituição que sabe o que quer e para onde vai. Na observação da realidade social, descobre os melhores caminhos para desempenhar a missão que lhe cabe dentro da sociedade” ( Alarcão, pg 26, 2001).

Afirmativamente, tudo pode e deve começar pela e na família, principalmente no quesito educação, pois, é a partir dela que a escola poderá começar a ter esse acesso à sociedade. Um primeiro contato deverá ser feito com a família para que depois possa se estender às demais esferas sociais.

Com este trabalho pretende-se entender que relação há entre a escola APAE de Irecê-Ba e os pais dos alunos que ali estudam, sendo estes; pessoas que apresentam deficiências especiais. Tendo, portanto, a oportunidade de compreender a importância da colaboração que deve existir entre a escola e a família para que assim haja uma educação eficiente e eficaz desses alunos, pretende-se encontrar resultados que mostrem ser necessária uma participação intrínseca da família e escola para que juntas possam se encontrar de maneira precisa no universo de cada aluno colaborando para uma inclusão social justa e eficaz.

2. Problematizção

Os pais são os responsáveis legais e morais pela educação de seus filhos. Como a educação escolar não os exime dessa responsabilidade, a participação dos pais é flagrantemente necessária para que continuem a exercer seu papel de principais educadores dos filhos. Por isso pergunto como deve ser tal participação, pois é indubitável sua necessidade. ( i López, pág 75, 1999)

Não é fácil discorrer sobre a questão em evidência, até mesmo porque cuidar para que haja uma interação entre pais e escolas que se dizem escolas de pessoas “normais” seja mais compreensível, em razão de que quando há a relação neste contexto, as questões em jogo talvez seja apenas de caráter educativo, mesmo com algumas variantes que são pertinentes do meio. Porém, quando tratamos de uma situação em que está em jogo uma instituição de caráter não só educativo, mas também inclusivo, e até mesmo de reabilitação como é o caso da APAE Irecê, aí a situação toma outro rumo, passa a ter outro valor, ganha um novo peso.

Fatores como a afetividade, o tão pregado construtivismo que no nosso entender é algo que vem refletir exatamente na capacidade que o aluno tem de desenvolver algo mediante suas habilidades sejam estas inatas ou adquiridas, serão observados com muito mais cuidado nesse momento. E como medir a habilidade por exemplo de um garoto com deficiências que muitas vezes vêm comprometer até mesmo suas capacidades de coordenação motora e quase sempre a cognitiva. Entra aí a família com o seu conhecimento do aluno enquanto pessoa, e a escola, que passa a tratá-lo enquanto ser, capaz de adquirir e desenvolver habilidades que muitas vezes pareciam impossíveis para os familiares.

Como deve ser então a participação da família num processo educativo que tem uma característica como o da APAE Irecê?

Muita coisa precisa ser observada e definida, por exemplo: a família poderá participar do processo educativo não só de maneira individual com o seu filho, mas principalmente, participando de organismos formados paralelamente ao corpo docente e gerencial da escola como associação de pais de alunos, que no caso, poderá e deverá ser específico no tocante ao papel da família; o que já acontece ali na APAE. E deste modo como diz Jaume Sarramona I lópez, Educação na família e na escola; O que é e como se faz: “A participação dos pais se justifica a partir da perspectiva ligada à concepção democrática da organização social. Isso sem sombra de dúvida permitirá que os pais tenham acesso direto a questões de cunho didático-pedagógico porém como diz o próprio López, sem interferir nas questões técnicas da entidade:

É preciso convencer-se de que a participação, diferenciada conforme o papel que cabe a cada setor da comunidade educacional, constitui ao mesmo tempo uma manifestação de democracia social e uma garantia de qualidade. por certo não se pode confundir a participação com qualidade em si da educação escolar, porque a qualidade refere aos resultados educacionais alcançados pela escola, enquanto participação é apenas um meio. Contudo, trata-se de um meio fundamental, porque a educação não depende de si mesma, mas em grande parte do papel que desempenha a família dentro e fora da escola. Como se dá com outras habilidade humanas, é participando que se aprende a participar (i López, pag 83, 1999).

È preciso ter um olhar voltado para a família numa perspectiva de indispensabilidade, pois, é nela que deve haver uma primeira formação do indivíduo e porque não dizer a mais sólida que é o caráter, a personalidade.

Não se experimentou para a educação informal nenhuma célula social melhor do que a família. É nela que se forma o caráter. Qualquer projeto educacional sério depende da participação familiar: Em alguns momentos, apenas do incentivo, em outros de uma participação efetiva no aprendizado ou pesquisar, ao discutir, ao valorizar a preocupação que o filho traz da escola.

(Gabriel Chalita: Educação , a solução está no afeto, p 17, 2004).

Torna-se claro que a família é a célula que ocupa o primeiro lugar na formação do homem, formação digo, educacional, pois é dela que parte tanto o incentivo como o apoio ao aluno na escola e para a escola. Imaginemos, portanto, diante desta problemática toda como não deve ser o processo educativo quando se tratar de uma educação onde está em jogo exatamente pessoas que são portadoras de necessidades especiais como é o caso dos alunos da APAE de Irecê-Ba? É indiscutivelmente necessário que a família esteja mais presente do que nunca, pois, não se trata de formação tão somente, mas, acima de tudo, trata-se uma inclusão do indivíduo e também da família.

Nesse caso não se trata de cobranças, mas, de investidas no sentido de levar essas pessoas a terem contato com o mundo que apesar de ser seu ainda não foi achado, pois as suas necessidades não permitem. Daí entende-se que não se trata apenas de uma necessidade especial, mas de pessoas especiais que requerem um cuidado especial, uma participação especial da família e também da escola, na sua formação; o que se concretizará com uma relação especial entre ambas.

“A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus membros são exemplos para a vida. no que diz respeito à educação, se essas pessoas demonstrarem curiosidade em relação ao que acontece em sala de aula e reforçarem a importãncia do que está sendo aprendido, estarão dando uma enorme contribuição para o sucesso da aprendizagem”.

( GENTILE, Paola, 2006, pág 35).

Diante de uma situação tão delicada que é lidar com crianças portadoras de necessidades especiais, até que ponto deve-se cobrar que esses pais sejam os educadores de seus filhos e tão somente eles? Entende-se que nem mesmo os pais se encontram preparados para lidar com os problemas dos seus filhos e por isso é que a interação entre escola e família se torna imprescindível. Há de se entender que os professores não conhecem de fato muitas das situações que permeiam o universo desses alunos. Portanto, deve haver uma troca de experiências entre escola e família para que juntos possam encontrar soluções que venham sanar algumas deficiências que são próprias desses alunos.

Existem situações em que alguns dos problemas apresentados por vários destes alunos , são tão somente da competência de profissionais que atuam na área de forma mais categórica, a exemplo de psicólogos, psicopedagogos e até mesmo psiquiatras. É ai então que deve haver entre estas duas células um interesse em comum para que juntas possam contribuir para a formação e inclusão do indivíduo na sociedade.

“É absolutamente lógico considerar a escola uma instituição que cumpre uma função social pelo serviço que oferece à sociedade, serviço que se traduz na educação dos alunos a ela confiados”. (LOPEZ, Jaume Sarramona, i 1999).

Na escola da APAE de acordo a natureza de suas atividades, pode-se perfeitamente considerar que a situação é exatamente a culminância da citação acima. Porém, reconhecer a escola enquanto instituição que cumpre esse papel social não basta. Deve-se considerar a importância sumária da participação dos pais, pois esse papel social vai ser significante quando do retorno dado desta participação no processo de aprendizagem daqueles alunos. Questiona-se até que ponto tem sido a participação dos pais daquela escola nesse sentido e qual tem sido o resultado obtido nesse ínterim. Resposta que só virá com um maior tempo de observação e análise de fatores que vai desde fatores pedagógicos até sociais.

É importante que se considere cada célula social; no caso família e escola, cada uma no seu papel específico: O que se torna fundamental no sentido de a família conceder à criança o afeto e cuidados primários que lhe são peculiares e a escola vem completar essa formação, trazendo uma relação de convivência onde possa imperar a lei do respeito mútuo e relação social adequada. Entretanto não podemos fugir à realidade que a cada dia está presente no campo educacional, e por isso, busca-se encontrar saída para que situações sejam compreendidas e resolvidas na medida do possível, de acordo com a flexibilidade existente entre escola e família.

l Como acontece a participação dos pais no processo educativo da APAE no município de Irecê-Ba?

Segundo o comentário de Paola Gentile no artigo que escreve na revista Nova escola de junho/julho de 2006, com o titulo: “Abrir as portas à participação de familiares e da comunidade”, ela diz: “Escola e família têm os mesmos objetivos: Fazer a criança se desenvolver em todos os aspectos e ter sucesso na aprendizagem”... (Gentile pág 33).

Na sua percepção Gentile mostra o sucesso que tem havido daquelas instituições que têm permitido o acesso da família e da sociedade nesse processo: tipo a diminuição dos índices de evasão e de violência bem como o melhoramento no rendimento das turmas. Daí, podermos perceber que a participação da família no processo educativo de uma instituição é importante para o desenvolvimento do processo em si, da própria instituição e de um ajustamento entre ambas família e escola.

O que está em questão portanto é: dentro de um sistema “normal de ensino” para que haja um bom desempenho dos alunos quanto a aprendizagem, necessário se faz a participação indispensável dos pais; imaginemos num espaço em que os sujeitos são exatamente pessoas que requerem um cuidado redobrado, uma atenção maior. A nossa inquietação portanto, Qual a importância tem sido dada dentro este campo específico de ensino desenvolvido pela APAE de Irecê aos portadores de necessidades especiais por parte da da instituição bem como por parte da família.

Desejamos com isso:

l Compreender de uma maneira geral a relação de cooperação que existe entre escola APAE de Irecê e as famílias ali inseridas na pessoa de seus filhos, “alunos”.

l Observar a participação prática da família com o projeto educativo-pedagógico da APAE;

l Compreender a visão da família concernente à sua responsabilidade no desenvolvimento do projeto educativo da instituição.

l Perceber o valor que a escola APAE tem dado à família enquanto parceira ativa neste processo.


3. Metodologia:

Esta pesquisa será feita na escola da APAE de Irecê, com objetivo de levantar dados informativos que nos façam compreender o verdadeiro valor que há no fator interação, participação e colaboração entre família e escola dentro do processo educativo da mesma no sentido principalmente de se caminhar para uma formação de inclusão. tem como base teórica a abordagem qualitativa da pesquisa, pois o que se vem abordar é exatamente tudo aquilo que está ligado ao mundo daqueles sujeitos que fazem parte da escola direta e indiretamente. visto que:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela preocupa-se nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, valores e atitudes que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de resultados. (Minayo, 1998, pág 22).

Não pretendemos mostrar dados que venham quantificar o trabalho da escola nem tão pouco as ações da família; busca-se compreender o caso particular ali de relação escola-família. Porém o que se pretende é exatamente conhecer os verdadeiros resultados que interação escola-família produz na vida dos alunos ali da escola APAE, bem como procurar estabelecer a relação que pode haver entre as diferentes maneiras de ver de cada um a respeito de mundo. Portanto através de entrevistas feitas à escola(diretores e professores), às famílias, deseja-se levantar informações básicas para conhecer pontos relevantes no processo da pesquisa. Também procura-se fazer embasamentos teóricos segundo referências bibliográficas.

Os sujeitos da pesquisa em questão, são; a escola, a família e os alunos , sendo todos estes, referencial objetivo para estudo e compreensão do problema levantado.


4. Fundamentação Teórica

Na perspectiva de se fazer um trabalho que venha ter um cunho de trabalho voltado para uma metodologia baseada na pesquisa etnográfica e também para uma abordagem qualitativa da pesquisa, não podemos jamais deixar de atentar para as idéias de alguns autores que têm desenvolvido trabalhos voltados para esse tema. Um dos grandes fatores que tem levado ao estudo da relação da escola - família está implícito no que diz respeito a visão da família com relação ao seu papel na educação dos filhos bem como, principalmente, sua participação no processo educacional como um todo..

Uma conclusão admitida pelos próprios pais é que sua participação efetiva no sistema educacional implica uma formação prévia no que tange à estrutura geral organizacional do sistema, a seus direitos e deveres como representantes, além de uma clara vontade de compromisso com a educação de seus filhos e a melhora geral do sistema escolar. (I lópez, pg.81).

Porém, não só a família deverá ter reconhecimento do seu papel no processo educativo e educacional dos seus filhos. A escola deverá enquanto instituição responsável pela transmissão do conhecimento ter consciência do seu papel e, a partir daí compreender que precisa reconhecer a importância das pessoas envolvidas em todo o seu processo de trabalho.

A escola sem pessoas seria um edifício sem vida. Quem a torna viva são as pessoa: os alunos, os professores, os funcionários s os pais que, não estando lá permanentemente, com ela interagem.As pessoas são o sentido da sua existência. Para elas existem os espaços, com elas se vive o tempo. As pessoas socializam-se no contexto em que elas próprias criam e recriam. São o recurso sem o qual todos os outros recursos seriam desperdício...As relações das pessoas entre si e de si próprias com o seu trabalho e com a sua escola são a pedra de toque para a vivência de um clima de escola em busca de uma educação melhor a cada dia. (Alarcão, pg. 20).

Autores como isabel Alarcão, Jaume sarraumona, entre outros; têm mostrado que a relação escola família está realmente ligado e respaldado no conceito que há de cada uma dessas instituições, levando em total consideração o reconhecimento de cada uma quanto ao papel a desenvolver no campo educacional. Família e escola devem estar juntas sempre criando, recriando e vivendo cada contexto.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LOPEZ, Jaume sarramona i: Educação na família e na escola;o que é e como se faz. Ed. Loiola, são Paulo,1999.

ALARCÃO, Isabel : Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. editora artmed, Porto Alegre, 2001.

CHALITA, Gabriel: Educação – a solução está no afeto; editora gente, São Paulo, 2004.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org): Pesquisa Social: Teoria , método e criatividade; editora Vozes, Petrópolis, 1998.

REVISTA NOVA ESCOLA: Escola e Família – Todos aprendem com essa parceria; editora Abril, Junho/julho 2006.

Nenhum comentário: